You are currently browsing the category archive for the ‘Shit Happens’ category.

A imensidão azul da Lagoa dos Patos contratava com o mosaico de cores que vestiam as pequenas casas da colonia Z3, região cercada de humildes pescadores e igual humilde educação.

O chão batido de areia trazia na superfície as marcas das inúmeras motocicletas que circulavam no local, meio de transporte preferido dos residentes.

Na grande tela azul de água salgada pequenos pontos coloridos tingiam o cenário. Robinho, Cerrana, Filha do Rei, Silvania, entre outras, davam nome aos pequenos barcos coloridos, ocasionalmente ancorados às margens do trapiche, feito de velhas e escuras madeiras.

Negros biguas e brancas garças faziam a segurança do local, pousados sobre naturais pedestais de madeira semi-engolidos pela imensa lagoa.

Refletida na peruana Iquitos, de Mario Vargas Llosa, ou na surreal Macondo, de Gabriel Garcia Marquéz, a Z3, como era popularmente conhecida, encantava pelas suas peculiaridades, tal qual a miscelânea de cores entre as casas, anteriormente citadas, e o crepúsculo de, no mínimo, 4 cores…

Sabe aquela história de “pessoa certa”?

acho que não.

o próprio nome já diz: “pessoa certa”! é aquela que faz tudo certo. chega na hora certa, fala as coisas certas, toma atitudes certas… o detalhe é que isso tudo não é unanimidade, ou seja, muitas vezes não é o que a gente quer, o que implica em querer a pessoa errada.

errada porque te induz a fazer coisas das quais você jamais faria sem esse “incentivo”; a pessoa errada fala coisas que você não quer ouvir, mas muitas vezes, precisa; a pessoa errada não aparece 100% das vezes pra ficar contigo. ela aparece quando a presença dela é querida, desejada…

a pessoa errada te mostra algo novo que aquela “certa” compartilharia contigo os mesmos gostos. a pessoa errada é aquela que some um dia inteiro para quando te encontrar matar a saudade que um dia inteiro deixou…

essa é a diferença: visualizar a pessoa “certa” tendo em vista que o “certo” muitas vezes é o “errado”.

Dos novos personagens que conheci em Caxias do Sul, Xaxo é uma figura à parte. Robusto como uma máquina e amarelado, trazia na face as marcas do tempo e da luta diária, resumida em esmagar problemas, tais quais simples peças frágeis de brinquedos. Trazia na mão a força de muitos homens e a obediência de poucos. Era regido por seu operador, se é que assim o podemos chamá-lo. Em sua presença, diante de sua força, senti-me um ser frági e obsoleto no mundo. A cara sempre fechada trazia consigo a seriedade do trabalho pesado que exercia há anos, revelada a cada gemido. Não era de muito papo, mas se fazia crer apenas pelo tamanho e força. Não havia chuva que o parasse ou sol que o fizesse pedir arrego.

Assim era o Xaxo…

De duas em duas passavam depressa, riscando o escuro da noite, tingidas de vermelho.

Às vezes piscavam ao passar, noutras oportunidades pintavam apenas o vidro emoldurado que trazia paisagens em movimento.

Num piscar de olhos multiplicavam-se em milhares, cada qual em sua forma e cor, anunciando que mais uma vez a cidade não dormiria como diziam os populares.

De certo seriam ofuscadas apenas ao anunciar do dia, que traria consigo os raios de sol.

À tona voltariam apenas sob o respaldo da lua, que mais democrática que o sol, as deixaria brilhar novamente…

*Sobre lanternas, ao observar, de dentro do ônibus, carros cruzando as ruas à noite

Esguia. Destacava-se na multidão. Parecia unir-se a uma estrutura invisível; apoiava o tronco no nada com firmeza. Retorcia o pescoço tal qual o réptil precedindo o ataque e me fitava. Não imune ao veneno que escorria de seus olhos como lágrimas de um choro contido, deixava-me levar por aquele olhar.

Por um momento desviou os olhos e retornei do transe. Não sei quanto tempo passei ali, navegando naqueles olhos aguados e repletos de um estranho brilho amargurado e  fosco. Senti as pernas tremerem, fracas, ação inerente ao dominado perante o superior. Como num ritual envolvia o curto cabelo sob os dedos  tingidos de nervosismo e escassas unhas que um dia foram vermelhas, e deixava desnuda a face angelical. Fazia-se única.

A postura transbordava do garbo que o berço teimou em não lhe dar. Sob olhares de reprovação das mulheres e de desejo dos homens vestiu-se da mais pura capa da soberba e arrogância e caminhou em minha direção tal qual um pássaro sobre as águas, tamanha destreza demonstrada a cada passo dado. Vestia vermelho dos pés à cabeça, tom que confundia-se com a pele bronzeada e tenra. Assim, em cinco minutos, conheci Maria Lúcia, imigrante nortista em terras paulistas. De tabela, como confidenciara-me, chegou à “terra das oportunidades”; no colo do pai, roceiro de Tocantins, foi obrigada a partir rumo ao sudeste após ele perder o que mais amava: a lavoura.

Sob olhos renegados de filha trocada por comodities, relatava a vida difícil que levou sob a autoridade do pai e a submissão da mãe. Quando questionada sobre seu emprego, deixou escapar um fino sorriso no canto da boca.

__Acha que sou puta, né? Sem expressar reação alguma esperei que ela mesmo respondesse a pergunta.

__Todos acham, retrucou enquanto procurava algo na bolsa.

__Aqui: meu cartão do quarto onde atendo meus clientes. Falou me olhando seriamente enquanto estendia a mão e me entregava uma espécie de crachá.

Baixei os olhos discretamente e li:

MARIA LÚCIA RIBEIRO
ADVOGADA CRIMINAL

__Aqui o papel se inverte. Sou eu quem atendo os putos, resumiu o trabalho que exercia há sete anos.

continua…

Sob a garoa das tardes, tentava acender o cigarro molhado. Sem que percebesse era observado, até que o silêncio fora quebrado pela pertinente pergunta:

__ quer o isqueiro?

Quis.

Horas depois retribuiu a pergunta àquela:

__ quer o isqueiro?

Quis.

Emprestou, vestiu as roupas e saiu…

alguns olhares desconfiados lhe intrigavam. por mais que não parecesse aos olhos alheios, de certo fora percebido como aquele que, infeliz, lá estava pela rejeição.

não estava. mas gabava-se de, aos olhos delas, o ser.

sentia-se na obrigação de ali estar. a vontade trocada pela sede de palavras, era disseminada junto ao copo postado sobre a bela mesa, contrastante com os adornos não-belos da moça ao lado.

não que quisesse, mas confundia histórias, que se misturavam e margem davam à uma terceira.

o vermelho do cenário distraiu-o por um breve momento e antes mesmo que o olhar pudesse seguir o pensamento, direcionou os olhos aos dedos anelares tingidos de nervosismo e escassas unhas mal pintadas.

_não tem aliança, pensou.

_e você não tem coragem, ouviu de sua consciência.

levantou-se, pagou a conta e saiu, entre risadas e olhares desconfiados

me encanta.

se eram os olhos? a cor do cabelo? o modo como falava? por um capricho do destino, não me fora permitido vê-la, quiçá tocá-la. a forma como nos conhecemos dava a conotação daquele relacionamento que jamais teria fim. não lhe era permitido terminar porque nem sequer havia começado. ela sabia de minha existência, elogiu-me sem ter noção de tê-lo feito. e para mim bastava. seus escritos me soavam familiares e graciosos. a cada situação confidenciada às telas do computador, me imaginava em sua presença. meu nome proferido por seus dedos no teclado – mesmo que não a mim fosse direcionado – me encantava.

o semblante imaginado vivia no ideal. impossível vê-lo com nitidez. a confusão relatada e a forma como fê-lo fugiam do convencional, ao qual eu também procurava fugir. o encontro não demoraria a acontecer e era prédefinido, mas outrora não me despertara tamanho interesse como no ultimo e-mail aberto. apesar de preferir a particularidade das cartas pessoais, direcionadas a pessoas exclusivas, tomadas de uma aura outrora discutida em sala de aula, fora pelo contemporâneo e-mail que eu me apaixonei por quem não conhecia.

ao seu lado sentia-me feliz e completo, mas nunca o estive. não poderia saber como me sentiria quando pela primeira vez a tivesse, não nos braços como desejava, mas nos olhos… à sublime e covarde comodidade de tê-la, mesmo sem tê-la. as mãos seriam trocadas pelos olhos e ao invés de tocá-la, a observaria. cada movimento como que um toque fosse.

os grandes olhos brilhantes arqueando-se em contradição com o sorriso oferecido; o negro cabelo sobre as orelhas e a mão que o ajeitaria revelando a face desnuda e angelical, que não o protegeria, mas lhe tiraria o sono. os finos e delicados lábios a proferir palavras que eu julgava já conhecer.

não por acaso, transformando a personagem em terceira pessoa, longe dali imaginava o exato cenário em que seus escritos foram feitos, com riqueza de detalhes. de sua vida, sabia pouco mais do que uma rápida pesquisa poderia sugerir: não gostava de comida japonesa, seu cão havia nome e era muito apegada à família, citada em 4 dos 4 textos de sua autoria que lera.

apaixonara-se por aquela que jamais havia visto e temia. temia o fato de vê-la e desapaixonar-se. achava improvável, mas temia.

e como se possivel fosse, rogou aos céus que nunca a encontrasse para, então, tê-la para todo o sempre…

momento exato em que o texto em questão fora escrito

Em meio ao cenário étnico cultural instalado no Brasil por conta do horário político eleitoral

Entrevista com Gilberto Amêndola

Olanda

"Literatura é a imortalidade da fala." (August Schlegel)

Dia-a-Dia

maio 2024
S T Q Q S S D
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031  

Categorias

Editorial

Crenças, cada qual desenvolve as suas ao decorrer do tempo. Desenvolvi as minhas e são nelas que me apego para (sobre)viver. De achismos o mundo está repleto, mas de argumentos, carece. Com o único e exclusivo interesse de servir como um refúgio para pensamentos soltos traduzidos em palavras o blog fora criado. Mudar o mundo?! acho improvável. Mudar a visão de mundo das pessoas?! acho necessário.

Visualizações

  • 31.005 curiosos