You are currently browsing the monthly archive for janeiro 2010.

O poeta causa discussão em mesas por escrever como poucos, mas não ter a mesma habilidade na hora de soltar a voz – discordo, mas é inegável a capacidade de Chico Buarque em conduzir um bom texto com uma leitura fluente. Em “Leite Derramado” a história é desenvolvida em um leito de hospital.

Um velho relata suas inúmeras histórias de vida a quem quiser ouvir e não se preocupa se de fato querem ouvi-las; deitado em sua cama relembra fatos históricos de antepassados, tendo como cenário o Brasil e as modificações históricas retratadas ao longo de anos. A leitura fluente citada anteriormente dá-se pela forma como Chico leva o texto, fazendo com que o leitor não saiba ao certo se o velho conta a história a ele (leitor), ao companheiro de quarto, às enfermeiras ou à filha.

195 páginas de pura literatura nacional é a temática da obra dividida em 23 capítulos, não numa ordem necessariamente contínua, já que cada um deles trata-se de uma nova história relatada pelo velho em leito de morte.

O título soa extremamente adequado, já que ao longo da leitura é fácil perceber que não importa quanto leite é derramado, como sugere o clichê, mas sim chorar por ele, ou seja, o importante não é quem estiver ouvindo as histórias, mas apenas contá-las.



A coisa é simples: um rapaz, líder de um grupo, apaixona-se pela nova integrante desse grupo e o desenrolar da história gira em torno desse relacionamento. O que caracteriza “Mozart & The Whale” como um ‘filme a ser visto’ é o fato de ambas as personagens sofrerem de um tipo de autismo.

Não sendo muito comum em terras tupiniquins, o autismo, ao contrário do que muitos pensam – inclusive eu há algum tempo, não caracteriza-se somente como ausentar-se do mundo tido como ‘normal’ em que vivemos. O tipo demonstrado no filme com os protagonistas é o Asperger, ou seja, em suma, eles não sabem o que dizer quando questionados e entendem tudo o que lhes é dito no sentido literal.

A importância atribuída ao filme está na forma como é tido um relacionamento entre portadores de autismo e a forma como eles lidam com um relacionamento amoroso. Num diálogo, por exemplo, momentos antes de se deitarem ele diz:

Você sabe que na selva, há elefantes com trombas maiores e trombas menores, não?!

e ela responde:

Sim, mas não estou interessada na tromba dos elefantes e sim se o seu pinto é bom.

Ao contrário do que possa parecer à partir desse diálogo, o filme é extremamente ‘família’ e dá a clara noção desse “sentido literal” que as personagens são obrigadas a conciliar com o dia-a-dia. As atuaçõe são fiéis ao que sabemos sobre esse diagnóstico e o filme é conduzido baseando-se no cenário normal de um casal, ou seja, brigas, admiração, convivência, trabalho, casamento e o amor.

Vale a pena entender o que perdemos – ou ganhamos, tendo atitudes semelhantes às retratadas em “Mozart & The Whale” que conta com ótimo elenco, fotografia e trilha sonora, além de um roteiro original e interessante.

>

Assista se…
…gosta de um bom filme de romance e se interessa em entender o mundo de pessoas que fogem às nossas dificuldades. A mensagem que fica é “aceite-me como eu sou e um dia serei como você quer”

A viagem começara cedo. Depois de algumas voltas o cenário escolhido figurava entre garrafas, barris e o que parecia o presságio do fim daquilo que Vinicius e Tom tanto prezaram em fazer bem feito. E como fizeram…

Da cópia embriagada dos Bee Gees ao Cazuza do agreste, as canções eram jogadas aos ouvidos dos que ali permaneciam.

Os olhos de ressaca e os copos vazios contrastavam com o ânimo repentino impulsionado pelas músicas gritadas no velho karaokê.

Em meio a “eu tô cheio de amor pra dar” as personagens tomavam conta do local como se de uma pintura de DA LÍ tivessem tomado forma.

Ali, tudo podia… Com Cazuza do agreste cantando Eduardo Costa a Sepultura ensaiando Renato Russo, passando pelo falho Chitãozinho, a noite ia chegando ao final e as personagens voltavam cada qual para sua respectiva obra.

Talvez guerreiros de Pablo Picasso, em Guernica, Girassóis, em van Gogh ou gritantes em Munch se ofuscassem diante de tão peculiares trejeitos e pertinentes diálogos.

Ao final a conta saiu barata – perseguida aos gritantes olhos empunhados de silenciosa vassoura…

Olanda

"Literatura é a imortalidade da fala." (August Schlegel)

Dia-a-Dia

janeiro 2010
S T Q Q S S D
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031

Categorias

Editorial

Crenças, cada qual desenvolve as suas ao decorrer do tempo. Desenvolvi as minhas e são nelas que me apego para (sobre)viver. De achismos o mundo está repleto, mas de argumentos, carece. Com o único e exclusivo interesse de servir como um refúgio para pensamentos soltos traduzidos em palavras o blog fora criado. Mudar o mundo?! acho improvável. Mudar a visão de mundo das pessoas?! acho necessário.

Visualizações

  • 31.005 curiosos