Fuçando na memória encontrei este texto de 2009. Eis:

 

A noite era primavera no calendário e verão na prática; o sol oscilara entre 30 e 40 graus durante o dia, o que confundira ainda mais a cabeça dele. Depois de umas verdades e um banho quente, a companhia que o aguardava na cama era Caio Fernando Abreu e seus morangos mofados. Mas Caio em texto e não em carne. Melhor assim, senão ele se convenceria de que viver não faz tanto sentido. A vida é sofrimento, depois alegrias; há quem diga que é nesse sofrimento que se aprendem as coisas. Assim sendo, pra quê os quatro anos de faculdade ?! os onze de colégio/escola ?! Bastaria viver, sofrer e aprender…

Do canto do quarto mofado (lembra-se dos morangos ?) e úmido, os pensamentos eram transcritos no papel distraídos às vezes pelo latido do cachorro que vive ali ao lado com menos preocupações e até certo ponto menos sofrimento; o que indica que aprendera menos, já que menos sofrera.

Respirando com dificuldades tentava entender a razão de tantas perdas e se era merecedora de todas elas. Chegou à conclusão que sim.

Sentia vontade de nada fazer… escrever já lhe custava um grande esforço, pensar então… de sentir já havia desistido… a semana fora “sentida” demais. As responsabilidades não o preocupavam e a vontade era de largar tudo e não pensar em nada. Queria dormir e acordar dias, semanas, meses depois. Perderia inúmeras coisas, mas não sofreria outras.

Dividia a casa com pessoas e problemas onde a melhor opção sempre fora a ausência. Sonhava em uma vida diferente… uma vida em que tudo seria mais fácil, mas desisitu também de sonhar. A realidade recente não o deixava ir além.

O último suspiro fora dado às 21h52 e a luz apagada…