me encanta.
se eram os olhos? a cor do cabelo? o modo como falava? por um capricho do destino, não me fora permitido vê-la, quiçá tocá-la. a forma como nos conhecemos dava a conotação daquele relacionamento que jamais teria fim. não lhe era permitido terminar porque nem sequer havia começado. ela sabia de minha existência, elogiu-me sem ter noção de tê-lo feito. e para mim bastava. seus escritos me soavam familiares e graciosos. a cada situação confidenciada às telas do computador, me imaginava em sua presença. meu nome proferido por seus dedos no teclado – mesmo que não a mim fosse direcionado – me encantava.
o semblante imaginado vivia no ideal. impossível vê-lo com nitidez. a confusão relatada e a forma como fê-lo fugiam do convencional, ao qual eu também procurava fugir. o encontro não demoraria a acontecer e era prédefinido, mas outrora não me despertara tamanho interesse como no ultimo e-mail aberto. apesar de preferir a particularidade das cartas pessoais, direcionadas a pessoas exclusivas, tomadas de uma aura outrora discutida em sala de aula, fora pelo contemporâneo e-mail que eu me apaixonei por quem não conhecia.
ao seu lado sentia-me feliz e completo, mas nunca o estive. não poderia saber como me sentiria quando pela primeira vez a tivesse, não nos braços como desejava, mas nos olhos… à sublime e covarde comodidade de tê-la, mesmo sem tê-la. as mãos seriam trocadas pelos olhos e ao invés de tocá-la, a observaria. cada movimento como que um toque fosse.
os grandes olhos brilhantes arqueando-se em contradição com o sorriso oferecido; o negro cabelo sobre as orelhas e a mão que o ajeitaria revelando a face desnuda e angelical, que não o protegeria, mas lhe tiraria o sono. os finos e delicados lábios a proferir palavras que eu julgava já conhecer.
não por acaso, transformando a personagem em terceira pessoa, longe dali imaginava o exato cenário em que seus escritos foram feitos, com riqueza de detalhes. de sua vida, sabia pouco mais do que uma rápida pesquisa poderia sugerir: não gostava de comida japonesa, seu cão havia nome e era muito apegada à família, citada em 4 dos 4 textos de sua autoria que lera.
apaixonara-se por aquela que jamais havia visto e temia. temia o fato de vê-la e desapaixonar-se. achava improvável, mas temia.
e como se possivel fosse, rogou aos céus que nunca a encontrasse para, então, tê-la para todo o sempre…
momento exato em que o texto em questão fora escrito